quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Lobato, Tia Nastácia e o preconceito

A cada dia vivemos uma surpresa. Agora tentam impor restrições ao livro " Caçadas de Pedrinho ", de Monteiro Lobato, classificando-o como racista ou preconceituoso por falar da negra Tia Nastácia.
Coisas de tecnocratas completamente divorciados da realidade brasileira e, ao que parece, ignorantes sobre a história e a cultura de nossa socioedade. Se conseguirem barrar o nosso maior escritor para o público infantil, esses neo-tacanhos logo estarão também perseguindo Machado de Assis, Jorge Amado e a outros autores indispensáveis à cultura nacional. Mas, mesmo assim não terão conseguido romper com o preconceito, o racismo e outros males da sociedade.

A questão do preconceito tem sido discutida na sociedade brasileira de maneira demagógica, hipócrita e ineficiente. Aqueles que se apresentam como arautos da igualdade pensam apenas em afrodescendentes e homossexuais e, parece que propositadamente, ignoram os orientais, os judeus, os árabes, os pobres, os deficientes físicos, as mulheres e tantos outros segmentos que sofrem discriminação vinda de seus desiguais. Fazem questão de ignorar que afrodescendente e homossexual também tem certo tipo de discriminação aos demais e, portanto, não são os "coitadinhos" que seus falsos defensores querem fazer crer.

No tempo em que viveram Monteiro Lobato e Machado, o Brasil era uma sociedade altamente discriminadora e tinha nos negros o objeto maior da desigualdade, mais pela questão economica da abolição do que pela cor da pele ou qualquer outro fator. Com o desenvolvimento, vieram outros grupos étnicos - os imigrantes - que também foram discriminadose discriminaram.

Mas o país transformou-se nesse imenso caldeirão de miscigenação que tende, cada vez mais, reduzir questões étnicas. Tanto que aqui convivem pacificamente etnias rivais em suas origens - Judeus e Árabes por exemplo - e muitos brasileiros de hoje, são afrodescendentes e, ao mesmo tempo têm traços índios, europeus, orientais, etc. E a mistura, via-de-regra, apresenta excelentes resultados.

Quanto ao preconceito, já existe legislação que o criminaliza e evita os excessos. Agora, sair procurando frases ou idéias preconceituoses na obra cultural é atitude, no mínimo, idiota. A literatura, a musica, a propaganda e todas as manifestações são decorrência do clima vivido pela sociedade na época de sua produção. E, mesmo no Brasil peconceituoso dos séculos IXX a XX, não dá para acreditar que certas obras, tenham tido o objetivo de diminuir ou ridicularizar as minorias e os desiguais.

Em vez de tentar criar uma carapaça protetora a negros e homossexuais, governo, lideranças, forças da sociedade e principalmente os intelectuais, deveriam lutar em busca de iguadade para todos os individuos, independente de sua cor, raça, religião, orientação sexual e nível economico. Só seremosuma sociedade justa no dia em que todos tivermos a cidadania respeitada, com direitos e deveres iguais.

Aqueles que hoje estabeleceram cota para negro, mulher ou qualquer outro segmento, deveriam parar com isso porque, a partir do momento em que entra na universidade, no emprego ou em qualquer lugar pela porta privilegiada, o indivíduo fica marcado e, aí sim, a desigualdade é fortalecida. Igualdade é a palavra de ontem. Todo o resto é retrocesso e motivo para os ditos "defensores" se aproveitarem daqueles a quem dizem defender. É a neo-escravatura...


Texto retirado do jornal A TRIBUNA DO POVO de Umuarama.

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