quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dignidade não se contamina

Há algum tempo atrás uma emissora de televisão apresentou uma reportagem intitulada “a boca do lixo”.


As câmeras focalizaram a realidade das pessoas que vivem do produto que conseguem retirar daquele lugar infecto, chamado lixão.
As primeiras cenas chocaram sobremaneira. Crianças e jovens, adultos e velhos, disputavam, com as moscas e os urubus, os detritos jogados pelos caminhões de coleta.
Eram pessoas que, em princípio, pareciam confundidas com o próprio lixo, que haviam perdido a identidade, a auto-estima, a dignidade.
Revestidas de trapos imundos, reviravam com suas ferramentas os monturos fétidos e retiravam alguns objetos que colocavam num saco, igualmente imundo.
No entanto, no decorrer da reportagem os repórteres elegeram algumas daquelas pessoas e acompanharam um pouco da sua rotina diária.
Eles as entrevistaram, perguntaram qual o motivo que as levou àquele tipo de trabalho, que se poderia chamar de sub-humano.
E, na medida em que os entrevistados falavam das suas vidas, de seus anseios, de como encaravam a situação, fomos percebendo uma realidade diferente da que era suposta no início.
Aquelas pessoas não haviam perdido a identidade, tampouco se deixaram confundir com a sujeira.
Após as lutas do dia, chegavam em seus casebres, tomavam banho, trocavam os trapos infectos por roupas limpas, embora simples, e continuavam seus afazeres domésticos, com dignidade e honradez.
Percebemos que aquelas pessoas não permitiram que a situação deprimente e miserável lhes contaminasse a dignidade.
Respondendo às perguntas feitas pelos repórteres, uma senhora que vivia com o marido, seis filhos e a mãezinha já idosa, deixou bem clara a sua posição diante da vida.
Quando lhe perguntaram se não era muito difícil criar seis filhos, ela respondeu sorrindo: “eu os amo de igual forma.” Se Deus os mandou, é porque devo criá-los. O que não podemos é matar. Eu nunca matei nenhum no ventre, como não mataria agora, depois de nascido.
E quando o repórter perguntou à avó se ela ajudava a cuidar dos netos, esta respondeu com sabedoria: “eu já criei e eduquei meus 9 filhos, agora cabe à mãe deles criá-los. Se fosse para eu criar, Deus os teria enviado como meus filhos também.
Uma outra senhora, já bem idosa, que também trabalhava no lixão, demostrava sinais evidentes de dignidade e fé em Deus.
O corpo esquálido e sem os dentes, davam notícias dos maus tratos que o tempo imprimira àquela mulher. Todavia, ao responder ao entrevistador se não se envergonhava de trabalhar no monturo, disse que vergonha é roubar e matar, e que disso ela jamais seria capaz.
Aquelas pessoas, unidas pela desdita, falavam de amizade, respeito mútuo, companheirismo, convidando-nos a mais profundas reflexões em torno das nossas próprias vidas.


Já é tempo de pensarmos um pouco antes de reclamar da própria situação, já que, por pior que seja, não se pode comparar à daqueles que vivem do lixo que nós atiramos fora.
Pense nisso!
Deus não cria as situações de miséria para seus filhos.
Todas as condições sub-humanas impostas a determinadas classes sociais, são geradas pelo próprio homem, que se enclausura na concha escura do seu egoísmo, quando poderia, com poucos esforços e uma pequena dose de solidariedade, dar a cada um o necessário para viver.












Pensemos nisso!

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